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Orquestra Sinfónica Nacional - O Vélo d'Oiro | Suite Colonial Africana (Frederico de Freitas)

Orquestra Sinfónica Nacional - O Vélo d'Oiro | Suite Colonial Africana (Frederico de Freitas) Esta gravação data de 5ª feira, dia 16 de Agosto de 1962, foi efectuada no Estúdio A da Emissora Nacional, na Rua do Quelhas, em Lisboa, e trata-se de um fonograma que foi providenciado exclusivamente para transmissão radiofónica, e propositadamente para emissões regulares de “Música Sinfónica”.
Aqui, escutamos a Orquestra Sinfónica Nacional, sob a direcção de Frederico de Freitas, a executar a “Suite Colonial” de sua autoria, constituída pelos seguintes andamentos:
0:00 – Prólogo: uma abertura enfática, em que os trompetes e os tímbales desenham o grandioso pórtico da aventura, e ao mesmo tempo, a força do Império Português.
3:51 - Sede no Deserto: uma página sinfónica de alta tensão, em que a tenacidade e o heroísmo da personagem principal são exaltadas, e onde o panorama cinematográfico está presente, com inspirações claras da “Sinfonia Nº 5” de Shostakovich, estreada por Frederico de Freitas em Portugal, no ano da sua publicação, pouco tempo depois de ter concebido “O Vinho é Foguete” para o Concurso do Vinho e da Uva do Diário de Lisboa.
7:51 - Nocturno: o retrato das noites africanas, onde se destaca o lado romântico, lírico e sonhador da personagem.
12:28 - Batuque Fúnebre: foi a única onde Frederico de Freitas tentou representar as populações indígenas, e introduz elementos claramente inspirados pela estética do primitivismo musical.
Pertence à banda sonora da fantasia colonial “O vélo d'oiro”, adaptação dramática do romance, da responsabilidade do próprio Henrique Galvão e do poeta Silva Tavares, realizada pela Companhia de Robles Monteiro e Amélia Rey Colaço, com música de cena de Frederico de Freitas, e que mereceu o apoio do Ministério das Colónias e da Agência Geral das Colónias.
A sequência não obedeceu à ordem do drama, mas sim a uma lógica de apresentação musical dos diversos elementos psicológicos presentes na narrativa de Henrique Galvão, daí o título em questão.
A partir de uma base rítmica dada por três “N'gombas”, desenvolve uma construção por planos, em que os blocos tímbricos se vão sobrepondo à percussão: primeiro as cordas e depois as madeiras.
Uma acumulação de elementos que, num crescendo de intensidade (harmónica, rítmica e dinâmica), conduz a uma saturação da textura musical no final do andamento, até criar um efeito de paroxismo.
Segundo os especialistas, o objectivo de Frederico de Freitas não era uma aproximação etnográfica ou mesmo verosímil, ao batuque, mas a representação do que o colono branco poderia sentir ao ouvir a música africana.
Compreende-se desta forma o recurso de Frederico de Freitas a elementos estilísticos associados ao primitivismo musical, e em particular a evocações da “Sagração da Primavera” de Stravinsky, que se impôs como o modelo internacional desse movimento estético.
A utilização alternada de compassos ternários e quaternários, a sobreposição de padrões rítmicos diferentes, o recurso frequente a hemíolas, o cromatismo melódico e o paralelismo harmónico, são algumas características que permitem estabelecer uma filiação entre as duas obras.
Certos elementos temáticos introduzidos por Frederico de Freitas denotam, aliás, um parentesco formal com passagens do bailado de Igor Stravinsky, como as fulgurantes figuras cromáticas descendentes e os temas lentos e encantatórios nos metais.
Desta forma, o que Frederico de Freitas restitui como imagem da música negra não é o que ela pode conter de capacidade expressiva, mas o que ela denota de irracional e de caótico.
Na ausência de um conhecimento sério da música africana no meio musical português, a veracidade etnográfica não se impunha como critério de julgamento da obra.
Os poucos elementos de música negra mobilizados na peça, e nomeadamente os instrumentos de percussão, funcionam apenas como elementos decorativos, como paisagem sonora, na qual se vinham sobrepor figuras que serviriam para definir o lugar ocupado pelo Outro, pelo colonizado, no espaço acústico da representação.
Ou seja, construía-se assim uma rede de referências na qual os elementos estilísticos de um primitivismo musical genérico (neste caso de matriz stravinskiana) permitiam uma representação sonora da incomensurável alteridade que separava colonos e colonizados.
Uma gramática discursiva acessível, estéticamente e ideologicamente, à elite culta que assistiu à Fantasia colonial “O Vélo d’Ouro” no Teatro D. Maria, ou ao público que ouviu dois dos andamentos da Suite, o Prólogo e o Batuque, aquando da sua apresentação na Secção Colonial da Exposição do Mundo Português, no quadro de uma Noite Missionária.
Estreada oficialmente no dia 7 de Janeiro de 1939, num concerto de estúdio da Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, sob a direcção do autor, esta é a sua gravação oficial providenciada para a Emissora, em 1962, e neste caso, Frederico de Freitas decidiu modificar o nome para “Suite Africana” porque considerava o termo mais neutro e mais isento, perante a conjuntura em que Portugal vivia, que era a guerra em Angola.
Espero que gostem.

Freitas)

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